segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Auto

Meu nome é João Vítor, curso o 1º ano do ensino médio no CIEC (Centro Integrado de Ensino de Caetité) e tenho 15 anos.

Algumas características da obra são:


Estilo: obra escrita em versos heptassílabos, em tom coloquial e com intenção marcadamente doutrinária, fundindo em algumas passagens o português, o latim e o espanhol. Cada personagem apresenta, através da fala, traços que denunciam sua condição social.

Estrutura: peça teatral em um único ato, subdividido em cenas marcadas pelos diálogos que o Anjo ou o Diabo travam com os personagens.

Cenário: um ancoradouro, no qual estão atracadas duas barcas. Todos os mortos, necessriamente, têm de passar por esta paragem, sendo julgados e condenados ou à barca da Glória ou à barca do Inferno.

Personagens:
Diabo: condutor das almas ao Inferno, conhece muito bem cada um dos personagens que lhe cai às mãos; é zombeteiro, irônico e bom argumentador. Gil Vicente não pinta o Diabo com responsável pelos fracassos e males humanos; o Diabo é um juiz, que exibe às claras o lado mais recôndito dos personagens, penetrando nas consciências humanas e revelando o que cada um deles procura esconder.
Fidalgo: representante da nobreza. Chega com um pajem, roupas solenes e uma cadeira. É condenado por sua vida pecaminosa, em que a luxúria, a tirania e a falta de modéstia pesam como graves defeitos. A figura do Fidalgo, orgulhoso e arrogante, permite a crítica vicentina à nobreza.
Onzeneiro: usurário que alega ter deixado suas posses em terra; querendo buscá-las, revela seu apego às coisas mundanas. O Diabo não que ele volte à terra para reaver suas riquezas, condenando-o ao fogo do Inferno.
Parvo: simplório, sem malícia, ele escapa ao Inferno, driblando o Diabo. É uma alma pura, cujos valores são legítimos e sinceros, o que o conduz ao Paraíso. Em várias passagens da peça, o Parvo ironiza a pretensão de outros personagens, que se querem passar por "inocentes" diante do Diabo.
Sapateiro: representante dos mestres de ofício, é um desonesto explorador do povo. Chega com todos os aparatos de sua profissão e, habituado a ludibriar os homens, procura enganar o Diabo, que o condena.
Frade: é acompanhado de uma amante. Ele é alegre, risonho, cantante, mas mau-caráter. Crê-se inocente por ser membro da Igreja, por haver rezado e estar à serviço da fé. Ele dá uma lição de esgrima ao Diabo (que finge não saber manejar uma arma), o que prova a culpa do espadachim, já que frades não lidam com armas. A crítica vicentina ao clero é incisiva: os homens da fé não sabem ser pacíficos, verdadeiros e bons.
Brísida Vaz: agenciadora de meretrizes e feiticeira. Ela é conhecida de outros personagens, que utilizaram em vida seus serviços. Inescrupulosa, traiçoeira, cheia de ardis, não consegue fugir à condenação.
Judeu: acompanha-o um bode. Não obedece à doutrina cristã e é detestado por todos, inclusive pelo próprio Diabo. É oportuno ressaltar que, durante o reinado de D. Manuel (época em que viveu o autor), houve uma grande perseguição aos judeus, com o propósito de expulsá-los de Portugal.
Corregedor e Procurador: juiz e advogado, personagens condenados pela imoralidade. Eles faziam da lei uma fonte de ganhos ilícitos e de manipulação de sentenças, dadas conforme as propinas recebidas. A índole moralizadora do teatro vicentino fica bastante patente com mais essa condenação, envolvendo a justiça humana, na figura dos representantes do Direito.
Enforcado: acredita que a morte na forca o redime de seus pecados, equivalendo a um perdão; tal não ocorre e ele é condenado.
Cavaleiros cruzados: como lutaram contra os mouros em prol do triunfo da fé, são conduzidos à barca da Glória.

Comentário: a peça se caracteriza como um auto, designação genérica para peças cuja finalidade é tanto divertir quanto instruir; seus temas, podendo ser religiosos ou profanos, sérios ou cômicos, devem, no entanto, guardar um profundo sentido moralizador.

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